A expressão ocupa o imaginário religioso com muitos significados
distintos. Pode se referir aos benefícios de Deus, como em “receber uma
graça”, ou também a completa ausência de qualquer boa vontade de Deus,
como em “desgraça”: quem está longe da graça é alvo e também promotor do
mal. Traduz a idéia de algo que nada exige de quem recebe, como em “de
graça”, ou também a licença para viver de qualquer maneira, já que “onde
abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5.20). No sentido da
relação com Deus, já que ninguém é salvo pelas obras, mas pela graça
(Efésios 2.8,9), sugere que nada (“nenhuma obra”) é necessário ser feito
para garantir acesso ao céu. Enfim, “graça” pode se tornar uma palavra
mágica para quem espera tudo de Deus, sem assumir minimamente qualquer
compromisso, desenvolver qualquer reciprocidade ou senso de obrigação
piedosa.
Mas a Bíblia tem outra maneira de compreender a graça de Deus. De
fato, a graça implica o impulso de boa vontade de Deus baseado em seu
próprio caráter e não em qualquer mérito de quem por Ele é abençoado.
Exatamente isso: a graça de Deus não é o oposto de sacrifício, mas de
mérito. Isso significa que aquele que não está disposto ao sacrifício
não deve estranhar ao se ver privado da graça de Deus (Hebreus 12.15). A
graça de Deus indica que nada que o ser humano possa fazer será
suficiente para torná-lo merecedor do mínimo favor divino. Mas não
indica que o favor divino será recebido sem que o ser humano faça algum
sacrifício. Como bem disse Martinho Lutero: “É certo que ninguém será
salvo pelas obras, mas é igualmente certo que ninguém será salvo sem
elas”. Coerente com o ensino dos apóstolos: aquele que pretende receber o
favor de Deus mediante o mérito pessoal decaiu da graça, e Cristo de
nada lhe aproveitará. O favor de Deus é recebido mediante a fé. Mas não
qualquer tipo de fé, somente a fé que opera pelo amor, pois a fé sem
obras é morta (Gálatas 5.1-6; Tiago 2.17). A graça, e não o mérito
humano, é o que explica o favor de Deus. Mas todo aquele que recebe o
favor de Deus não fica impassível, em estado de mórbida letargia diante
de tão grande expressão de amor.
Além de impulso bondoso, a graça é também o poder de Deus em ação
sobre os que crêem. Estar sob a graça é estar sob a ação e influência de
Deus. Paulo apóstolo disse “pela graça de Deus sou o que sou, pois a
graça de Deus para comigo não foi vã”, e como conseqüência, trabalhou
mais do que todos os apóstolos, pois também disse: “todavia, não eu, mas
a graça de Deus comigo” (1Coríntios 15.10). Por esta razão orientou
Timóteo, seu filho na fé: “busque forças na graça que está em Cristo
Jesus” (2Timóteo 2.1), pois junto ao trono da graça achamos graça para
socorro em qualquer circunstância (Hebreus 4.16).
Porque somos alvos do favor gracioso de Deus e porque sua graça opera
em nós, transbordamos em favor e influência abençoadora sobre todos ao
nosso redor. Na verdade, Deus manifesta graça – ação bondosa e
influência poderosa – através de todos os que se colocam sob sua graça.
Os que se colocam sob a graça de Deus percebem que estar sob a graça é
fruto da graça, e percebem também que transbordar graça é uma graça,
principalmente num mundo marcado pela desgraça (2Coríntios 8.1-5).
Fonte: IBAB
terça-feira, 4 de outubro de 2011
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